Perda de memória e dificuldade de concentração podem ser sintomas da “Covid de longa duração”. Por: Waldir Ribeiro, Clarice Ramiro, Suzi Aguiar, Miguel de Oliveira
Pesquisadores e cientistas do mundo inteiro vêm se dedicando a entender os diferentes sintomas decorrentes da COVID-19. O Coronavírus, SARS-CoV-2, tem causado, além da síndrome respiratória aguda grave e pneumonia, outras manifestações clínicas bastante complexas.
Classificado como “COVID de longa duração” ou “Névoa cerebral”, o novo quadro que se apresenta é um tipo de inflamação que ocorre no líquido em torno do cérebro e da medula espinhal (líquido cefalorraquidiano), causando transtornos a longo e médio prazos, tais como: perda de memória, fadiga, confusão mental, dificuldade de concentração e articulação da fala, entre outros.
O relato de Whashington Castilho, que teve a doença e seus desdobramentos neurológicos, aponta que: “(…) na época, eu esquecia palavras simples, dava ‘branco’ mesmo. Estava conversando e, de repente, dava ‘branco’. Quando estava escrevendo as palavras fugiam. Muito cansaço mental, além de perda do olfato, do paladar, febre e dor de cabeça.” (Mestre em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde/COC/Fiocruz).
A névoa cerebral também pode se manifestar a partir de outras infecções, como a herpes, por exemplo. Normalmente pacientes que permanecem intubados em UTI (unidade de terapia intensiva), também apresentam algumas sequelas cerebrais. Tais ocorrências fazem com que a comunidade científica intensifique os estudos em busca da relação entre a névoa cerebral e a COVID-19, visto que suas causas podem ser múltiplas.
Estudos submeteram pacientes acometidos pelos sintomas mencionados a exames de tomografia computadorizada, eletroencefalograma e ressonância magnética, com o intuito de chegar a um diagnóstico que evidenciasse a relação entre a COVID-19 e a névoa cerebral. Tal expectativa não se concretizou, pois os estudos ainda apontavam muitas variáveis.
O caminho encontrado na investigação foi a análise do líquido cefalorraquidiano. A partir desse movimento, houve a percepção de que pessoas acometidas pela COVID-19, que tiveram sequelas cerebrais, apresentavam além da inflamação grandes níveis de citocinas no líquido que envolve o cérebro e a medula espinhal. Essa presença sinaliza uma ligação entre o sistema imunológico e o sistema nervoso.
Após mais de um ano de convivência com a COVID-19, pesquisadores e cientistas começam a chamar a atenção para a necessidade de pensarmos os cuidados pós-COVID. Neurologistas, neuropsicólogos e fisioterapeutas estão com os olhares voltados aos novos desafios apresentados, pois a doença atinge não somente o paciente, mas a família, o círculo de amizades e o desenvolvimento de suas atividades cotidianas.
Diante das muitas variantes do coronavírus é difícil hoje determinar qual ou quais novos comprometimentos podem surgir. No decorrer de novas pesquisas será possível entender melhor o comportamento desse vírus no organismo humano.
REFERÊNCIAS
Jan Remsik, Jessica A. Wilcox, N. Esther Babady, Tracy A. McMillen, Behroze A. Vachha, Neil A. Halpern, Vikram Dhawan, Marc Rosenblum, Christine A. Iacobuzio-Donahue, Edward K. Avila, Bianca Santomasso, Adrienne Boire. Inflammatory Leptomeningeal Cytokines Mediate COVID-19 Neurologic Symptoms in Cancer Patients, Cancer Cell, Volume 39, Issue 2, 2021, Pages 276-283.e3, ISSN 1535-6108,